sábado, 25 de maio de 2013

A história de Pezão: de segurança de carro forte a desafiante ao título do UFC

A história de Pezão: de segurança de carro forte a desafiante ao título do UFC

Redação, Rio de Janeiro

Pezão reencontra Velasquez (Foto UFC)

Do alto dos seus quase dois metros de altura e incríveis 126kg, Antônio “Pezão” Silva esbanja simpatia e simplicidade. Paraibano de Campina Grande, Pezão terá a chance de se tornar campeão do UFC neste sábado (25), quando enfrenta Cain Velasquez. Mas, nem mesmo a chance de se tornar o melhor lutador do mundo faz com que o lutador esqueça o passado sofrido que enfrentou até chegar à gloria nos Estados Unidos. A infância simples, os problemas com a imigração, problemas de saúde e a falta de dinheiro quase afastaram esse talento dos holofotes do MMA.
Confira abaixo a história do lutador, contada na Revista TATAME #151:
Filho de um policial militar com uma cabeleireira, o paraibano sempre foi aficionado pelas lutas, e começou bem cedo. “Comecei no caratê aos quatro anos. Fui ver uma apresentação de caratê e não sabia nem falar direito. Voltando pra casa pedi pro meu pai um quimono, e ele comprou um usado pra mim”, contou Pezão, que no começo teve que fazer a família se desdobrar para poder treinar.
Depois de sair das aulas, o então pequeno amante das artes marciais ficava louco para ir logo treinar, e fazia questão de ser o primeiro a chegar à academia. Arrastando a mãe para a academia, depois de um dia inteiro trabalhando no salão, Pezão se divertia nos treinamentos.
“Eu sempre treinava no final da tarde. Minha mãe passava o dia inteiro no salão e sentava lá enquanto eu treinava. Muitas vezes ela dormia de tão cansava, mas eu não faltava um dia”, contou o atleta, que é grato até hoje pelo apoio dos pais. “Meus pais foram fundamentais para eu chegar aonde estou hoje”, relembra, orgulhoso.
Depois que começou a competir profissionalmente, o lutador ainda teve que conviver com a dura rotina de trabalho. Segurança de carro forte, Pezão se desdobrava para proteger o dinheiro da empresa e tentar ganhar um trocado nas lutas.
“Meu treinador sempre falou para eu largar o trabalho de segurança e começar a lutar, mas sempre tive receio”, pensava, tendo que sustentar a família. “De tanto colocar aquilo na minha cabeça eu decidi lutar. Vendi meu Fusca por R$ 1200 e comprei suplementos, luvas, joelheiras e comecei a treinar. Graças a Deus, hoje estou aqui e posso dar o melhor à minha família, e tudo isso veio através do MMA”, emociona-se o gigante.

Desde cedo dedicado às lutas, o “Junior” já indicava que a força determinaria o caminho de sua vida (Foto arquivo pessoal)

A artimanha do técnico para levá-lo ao MMA

Pezão chegou ao seu auge ao atropelar Fedor (Foto divulgação)

Grande, forte e rápido. Com estes atributos, Pezão não conseguiu “fugir” por muito tempo dos insistentes convites de seu treinador para se aventurar no MMA. Durante uma conversa, Eli Wanderlei, seu técnico na época, falou que organizaria um torneio para que o paraibano lutasse. Antônio concordou, levando na brincadeira. Mas ele falava sério.
“Ele me pegou pela palavra. Lutei e ganhei por nocaute no primeiro round, e depois disso tomei gosto. Diminuí um pouco os treinos de Jiu-Jitsu e passei a treinar Submission, Boxe, e aí conheci o (Mário) Sucata”, contou o gigante, que ainda  trabalhava como segurança de carro forte e acabou transferido para a João Pessoa, onde conheceu o treinador que o levou para a Inglaterra – pelo menos, tentou.
“O Sucata dava aula na capital e me perguntou se eu queria lutar na Inglaterra, e eu não pensei duas vezes. Ele me deu a oportunidade e fomos pra lá. Não me deixaram entrar e fui deportado na primeira vez. Não acreditaram que eu ia para treinar”, relembrou.
Sem desanimar com a primeira resposta negativa, Pezão e Sucata foram atrás de alternativas para entrar na Inglaterra, mas todas falharam, chegando a dormir em um aeroporto em Portugal, e precisou da ajuda do amigo Rodrigo Minotauro para retornar ao Brasil. Depois de juntar documentos e revistas, provando que era um lutador e que ia à Terra da Rainha para treinar, seu visto foi concedido. E a passagem na Inglaterra foi vitoriosa. Com os cinturões do Cage Warriors e Cage Rage, Antônio ganhou um convite para lutar no EliteXC, onde conquistou mais um título. Com a simplicidade que lhe é característica, o paraibano reconhece o feito de conquistar três cinturões, mas continua trabalhando forte como fazia no interior da Paraíba.
O amor dos pais

Apoio dos pais foi fundamental para o atleta (Foto arquivo pessoal)

A vida sempre foi bastante dura para Antônio Pezão e o lutador sempre esteve envolvido com as artes marciais, mas a mudança para o MMA foi vista com certo receio por parte da família. Com exceção de Antônio Carlos, pai coruja que sempre apoiou o filho na decisão, Pezão encontrou resistência na mãe e na esposa, que não viam as lutas com bons olhos.
“Nunca fomos contra, sempre apoiamos a decisão dele. Ele, desde criança, saía da nossa cidade e ia competir por todo o Nordeste, não tinha nem patrocínio… Na verdade tinha ‘paitrocínio’, porque era eu quem bancava tudo (risos). Fico muito orgulhoso. Não tínhamos planos de ter um filho onde ele está hoje, morar nos Estados Unidos, ser dono de três cinturões, é um orgulho muito grande”, conta o pai.
A esposa do lutador, Maria do Rosário, também foi contra no começo, pois a grana era curta e os riscos altos.
“Minha esposa não queria que eu lutasse. Lá em Campina Grande eu lutei e ganhei R$ 350, e ela falava: ‘se você quebrar um dente, isso não vai dar nem para pagar um dentista’. Depois ela passou a ver com outros olhos”, conta Pezão.
Depois de conquistar a esposa, o lutador “dobrou” a mãe: “Eu o levava pela mão aos treinos de caratê e muitas vezes dormia enquanto ele treinava. Ele sempre foi dedicado nos treinos, desde pequeno dava show”, contou Maria de Lurdes, mãe de “Junior”, como costumam chamar o atleta da ATT. “O meu Junior de antes é o Pezão de hoje, e me orgulho muito”.

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